Memorial Ruth Laus (1920-2007)
Em homenagem a escritora e crítica de arte, criadora da primeira galeria de arte moderna do Rio de Janeiro.
Nascida em Tijucas (SC) em 25/01/1920 e falecida em Tijucas (SC) em 12/09/2007 em plena atividade.
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Adeus Rio de Janeiro
Catarinenses na Villa Rica
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Anotações do pai: 25 de janeiro de 1920
Ruth em foto de 1923 ou 1924 quando tinha 3 ou 4 anos
"Hoje, 25 de janeiro, às 6 da manhã nasceu minha décima segunda criança. É domingo e o sol já está abrindo os panos lá nos Morretes.
Decidimos chamá-la de Ruth para atender aos guris mais velhos encantados com a atriz Ruth Roland dos filmes Far-West que vêem nos domingos. Ela é a nossa sexta menina.
Em tempo:
O Padre exigiu a junção de outro nome pois não gostou de Ruth – atriz – para o batismo. Olhando a folhinha que veio do armazém deparamos com o seguinte: Conversão do judeu Saulo, ao cristianismo, como Paulo. E a fundação da Cidade de São Paulo.
A nossa Ruth, combinado com Minervina, será de Paula, Varella e Laus."
Rodolpho Laus, 1920
Tijucas, SC
No mesmo dia 25 de janeiro, em diferentes anos, nasceram:
1477 - Ana, Duquesa da Bretanha e rainha consorte de França
1874 - William Somerset Maugham, escritor britânico
1882 - Virginia Woolf, escritora inglesa
1927 - Tom Jobim, compositor brasileiro
1943 - Lenny Andrade, cantora brasileira
1945 - Bina Fonyat, fotógrafo brasileiro
1947 - Tostão, jogador de futebol brasileiro
1961 - Beth Goulart, atriz brasileira
1968 - Carolina Ferraz, atriz brasileira
1981 - Alicia Keys, cantora e pianista estadunidense
1984 - Robinho, jogador de futebol brasileiro
Nesta dia também se comemora a criação da cidade de São Paulo (1554) e o Dia Nacional da Bossa-Nova.
No ano de 1920 também nasciam alguns artistas brasileiros que Ruth iria conhecer ou conviver em algum momento de sua vida: a escritora Clarice Lispector, o poeta João Cabral de Melo Neto, os artistas plásticos Amilcar de Castro, Carlos Scliar, Lygia Clark, Aluisio Carvão, Vera Mindlin, Fayga Ostrower e Sansão Castello Branco, entre outros.
sábado, 27 de outubro de 2007
Mário Faustino
Dedicatória do poeta Mário Faustino para Ruth na edição original de seu livro O Homem e sua hora de 1955. Foi seu único livro editado em vida pois desapareceu em 1962 com 32 anos em acidente aéreo sobre as montanhas em Las Palmas, subúrbio de Lima, Peru. Foi editor e redator da mais importante seção de poesia da imprensa brasileira, a página Poesia-Experiência, que manteve no Suplemento Dominical do Jornal do Brasil de setembro de 1956 a novembro de 1958. (agradecimentos a Sergio Fonta)
Sergio Fonta, Ruth e Victoria
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Ruth, a menina
As ondas do mar quebram no teu pensar, mas não te molhes Ruth, porque de vida em gotas já basta as outras que não vivem.
Os passos vagados na areia brincando de ser caminho, um claustro de arte no vento corrido dessa alma arte.
Fecha este sorriso que não cessa, não te dá cansaço em ser sempre feliz?
Menina de olhos cerrados, pela alva de lua protetora, abraço devagar como nuvem palpitando em terras de espera... Menina que brinca de palavras bonitas.
Fica sem medo, tu sabes ser tu mesmo. Levitando nos aguardos breves de um verso contente. Criança assustada, que admira em contraverso o suor dos homens, os homens que dão seu suor... Tu és suor e luto, menina forte, guerreira sem branduras e carne.
O bem nas mãos, a beleza entre os dedos e o amor numa língua mortal e pacífica... Ainda assim, menina.
Douglas Tedesco
outubro/2007
(Douglas Tedesco é um poeta de Tijucas (SC), onde conheceu e foi amigo de Ruth. Tem apenas 19 anos...)
domingo, 21 de outubro de 2007
Encontro carioca dos amigos de Ruth Laus
No sábado dia 13 de outubro (por coincidência Dia Mundial do Escritor) os amigos cariocas de Ruth se encontraram para um almoço no atelier do escultor Mauricio Salgueiro, no Rio de Janeiro. Foi uma forma de homenagem da maneira que ela gostaria, decorrido um mês do seu falecimento.
O anfitrião Mauricio Salgueiro e seu filho Mauricio, abriram o atelier por volta do meio-dia para receber os amigos. O almoço ficou por conta da sobrinha de Ruth, Morgana Laus Platcheck (auxiliada por Valdir e Glória), que compareceu acompanhada de seu marido Eduardo e de Manuela, sua filha. Mauricio se encarregou de levar também a sobremesa preferida de Ruth: Sacrapantina, uma torta em camadas finas de pão-de-ló recheada com creme zabaione, aromatizada com rum e polvilhada com farinha de pão-de-ló.
Estiveram presentes, além dos já citados: Aracy Cardoso, Maria Claudia Bomfim, Fernanda Gurjan, Rodolfo Lorenzoni, Maria Pompeu, Ruth Mezeck, Egeu, Andréa e Clarice Laus, Sérgio Fonta e sua mãe Victoria, Geraldo Edson de Andrade e Ida Gomes.
Como sempre acontecia nos encontros com Ruth não faltou champagne, sua bebida preferida. Alguns de seus amigos como Renard Perez, Antonio Maia, Suzana Faini e sua filha Milenka, Noemi Flores, Maria Inez Souto de Almeida e Marilia Garcia, entre outros, não puderam comparecer.
Mas já está marcado um novo encontro no dia 25 de janeiro, quando Ruth faria 88 anos!
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Viagem ao desencontro
Ruth Laus sempre
Parte I: Mulher Desmascara Seus Desencontros
"Ninguém dirá seja este um romance de estréia. A segurança é tão incomum, sobretudo na movimentação e na caracterização das figuras, que a densidade da narrativa não se deixa sacrificar ao tempo interior. E, se há uma conclusão a retirar-se desse ajustamento entre a narrativa e o tempo interiorizante, logo se verificará que é a linguagem em toda uma força literária de representação. Contar-se-á, pois, com a linguagem como elemento imediato a denunciar em Ruth Laus uma romancista que já estréia definitivamente realizada."
Adonias Filho
Lauro Junkes*
Não tive a felicidade de conhecer a pessoa de Lausimar Laus, alma de privilegiada candência humana, com quem, no entanto, mantive gratificante correspondência voltada para sua obra. Depois conheci Harry Laus, partilhando convívio social e literário com sua marcante figura imbuída de sólida vivência artística. Somente bem depois, e recentemente, o grupo literário Laus se ampliou na abrangência do meu campo cultural: li o romance de Ruth Laus - Viagem ao Desencontro (Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1972), narrativa que inicia e se desenrola com impressionante fluidez, sem qualquer amarra a exageros de narrativa sumária, de abusos descritivos ou de descuidos em lugares-comuns, mas na segurança descontraída de quem desenrola um denso novelo, cujos múltiplos fios mantêm sua frágil autonomia sempre ameaçada e comprometida pelo entrecortante cruzar na rede de relações que constitui o dialogante ser humano.
Viagem ao Desencontro encerra o ambíguo desafio das águas paradas, na sua aparência calma que oculta os mistérios das profundezas. Narrado em primeira pessoa por Paula, tida "em conta de mulher muito vivida", segura e equilibrada, e balzaquiana, o relato se organiza em blocos fragmentários e descontínuos, mas dispostos em seqüência contínua, sem divisão em capítulos . Percebe - se ao final a circularidade da narrativa, centralizada em Paris, donde parte um grupo de mulheres para uma excursão turística por diversas localidades em torno do Mar Mediterrâneo, mas também onde conclui a ciranda sentimental da narradora, em suas viagens de desencontro.
Assim, as aparências cedem espaço a dimensões bem mais profundas: do roteiro turístico, penetra-se cada vez mais num perquirir da inesgotável condição humana, especialmente da condição feminina em seu dilacerante dilema: autonomia e carência; bem como o "desencontro" da viagem supera totalmente o pequeno e concreto discordar de roteiro e aspirações entre Paula e Juan Carlos, para divergências múltiplas na trajetória existencial, deixando entrever os insanáveis sulcos, traumas e desconcertos que o tempo imprimiu em todos.
Embora a narrativa bem demonstre não ser este o problema nuclear, projeta-se como central a problemática da mulher diante do sexo, nas suas relações com o homem. Atente-se primeiramente que todo o relato corporifica a perspicácia sutil da ótica feminina voltada para um universo feminino: a autora é mulher e mulher é a narradora, como o são todas as personagens fulcrais. Tal como Lausimar, também Ruth Laus evidencia ter-se confrontado agudamente com a condição feminina e sua afirmação em meio a um universo marcado por secular machismo. Neste romance é a mulher que constitui o centro. Entretanto, essa mulher vem delineada por um asfixiante contexto: as personagens ativas são todas mulheres, porém mulheres que se defrontam com o implicante epíteto de "solteironas". Essa condição, em grande parte resultante das "raízes da infância", dos traumas, complexos, frustrações e preconceitos herdados, num tradicionalismo repressor, por uma "aprendizagem" de obediência submissa "para trás", adiando questionamentos para "depois", impondo "tabus provincianos" e o impacto do pecado. Para alguém, a problemática entre os pais marcou a concepção de "casamento, para mim, passara a representar tristeza" (p.88). Para outras, a condição de "donzela" é insustentável, mas a estabilidade dum relacionamento apavora. Angustiantes são os relatos embutidos, restituindo a experiência afetivo-sexual de Zélia mulheres que amaram plenamente seus... amantes e, embora cada uma "só receba as sobras", num penoso e constante esconder-se da sociedade, contentam-se sadiamente com esse "amor": "Ela (Zélia) era uma mulher sadia, normal, amava e era amada, não destruía nada; dele só recebia as sobras. Mas, para isso, é preciso haver muito amor" (p. 120).
E o romance todo parece assumir a feição dum denso psicodrama, em que os traumas, frustrações e complexos, anseios insatisfeitos ou recalcados por formas de educação ou mentalidade fechada, afinal explodem ou se extravasam duma forma ou de outra, seja pela simples convivência de portadoras das mesmas ânsias defraudadas, seja pela descontração trazida pelos ambientes da viagem longe do opressor contexto familiar-provinciano, seja mesmo sob a ação de euforias compensadoras ou de distensões movidas a álcool. O divã psicanalítico transfere-se para ambientes e situações nada formais, concretizando todo um processo catártico de liberações, pelo simples fato de abrir válvulas que permitam a extroversão das opressões frustradoras das ânsias.
Daí a página inicial já referir-se à opressão do "nada" (o vazio no "intricado processo de sobrevivência") fazendo surgir o aceno da "felicidade" ("participar de algo que dá alegria" mansa e suave) no encontro com um homem. E logo a seguir, se Yara (o "sargento" sufocando sua insegurança e angústias com a impetuosidade de palavras e decisões), explicita claramente precisar de MA-RI-DO: esse utensílio corriqueiro que toda provinciana tem", a voz da experiência mais madura de Paula revida: "precisas, como toda mulher, de um COMPANHEIRO" (p. 25). Delineiam-se assim, desde logo, as coordenadas básicas desse universo feminino de carências, frustrações e repressões, buscas, ânsias e sonhos - representando a viagem turística pelos diversos países evidente descontração escapista "à rotina de suas vidas.
Aproveitar a fuga, o sonho, era a preocupação não dissimulada de todas" (p. 151), pois, longe da rotina fechada de sua tradição provinciana, desvestem as máscaras impostas, resultantes dos inúmeros condicionamentos educativo-religioso-familiares, imposições do superego defraudando anseios e abortando sonhos, lançando inclusive desafios drásticos como aquele da própria narradora: "quem me indenizaria a adolescência perdida sem passeios de mãos dadas, sem carícias medrosas, sem beijos apressados, tudo evitado em nome do pecado?" (p. 58), traumas que implantam 0 impasse para uma vida normal e harmoniosa, suplantada por agressividade numa paradoxal defensividade: "Nasceu dentro de mim um tremendo duelo: o desejo persistente de ser amada e a incapacidade total de me fazer amar" (p. 61).
Numa feminina coragem que suplanta muitos machismos covardes, o romance transcorre num enfoque realista e desmistificador, evidenciando a indispensável complementaridade entre mulher e homem; confissão da mulher em seu apelo ansioso pelo companheiro masculino, mesmo que tantas vezes este seja de mau caráter e perigoso; a conseqüente busca da afirmação feminina ou feminista, ora acusando casais "de papel passado" nos quais a hipocrisia do homem aparenta dignidade moral, sustentando mas enganando a esposa, enquanto esta se aliena com seu tipo de infidelidade: "as esposas procriam, jogam cartas e gozam descobrindo ou atribuindo, a outras, o que lhes falta coragem para realizarem. Não traem fisicamente seus maridos: entregam-se a personagens de filmes e livros..." (p. 122), ora lançando mordaz ironia: "Haverá algum remédio para deixarmos de amar um homem? - Há uma receita que dizem ser ótima: casa com ele..." (p. 76), ora invectivando a hipocrisia da sociedade que não admite mulher autônoma: "você precisa arranjar um amante", introjetando-lhe a máscara de não parecer "ridícula" mas "evoluída"; para, finalmente, em meio às lições da vida, na lembrança do provérbio da terrinha ("casamento e mortalha, no céu se talham") impor-se a aceitação de conviver com a concepção depreendida por Juan Carlos ("Sem a pessoa certa preferes viver só"), avaliando os pesos dos "desencontros" e do "penoso viver só": "Só, estamos durante as buscas, quando perambulamos aflitos querendo integrar-nos a momentos aos quais não pertencemos. Só, estamos ao dar-nos sem amor. Só, estamos ao receber 0 que não amamos. Há que sabermos nos ter a nós mesmos e retirar das ausências todas as presenças as quais necessitamos que sobrevivam. Elas estarão, todas, ao nosso redor. Não concretas. Não materiais. Mas nossas. Totalmente nossas". (p. 183)
Embora o discurso narrativo se sirva muito sagazmente da visão de fora, embutindo e encadeando blocos narrativos captados cinematograficamente pela transcrição de quadros e cenas dialogadas, sem intervencionismos do narrador, de fato, o que predomina em todo o relato é esse devassamento do mundo interior das mulheres-personagens, o que se concretiza nos diálogos e, sobretudo, nas narrativas embutidas. Nesse sentido, é notório como a narrativa toda desenvolve, com incisiva sensibilidade, um vigoroso contraponto entre a situação presente e fragmentos de lembranças do passado, insinuando claramente como a educação, o puritanismo provinciano, o pecado doma religião mal concebida, foram os causadores dos preconceitos e traumas, gerando insatisfações, anseios não realizados, frustrações e carências que um dia explodem. E é exatamente o resgate desse passado que dinamiza todo o relato, ao mesmo tempo em que lhe confere uma vigorosa e dolorosa tonalidade emotiva.
Os blocos narrativos em que Paula rompe os selos dos seus arquivos íntimos, desmascarando o caráter dos homens que passaram por sua vida, assumem exatamente pontos-chave não só para evoluir a ação, mas sobretudo para o forte humanismo que tudo impregna, denunciando não uma vazia futilidade na busca sexual, mas um profundo sentimento de partilha num relacionamento plenificador, tão difícil de ser encontrado. Ao resgatar, por exemplo, a situação do seu primeiro beijo, a narradora caracteriza o parceiro como: "Era mordaz, irrequieto; via-o em permanente busca de prazeres físicos. Faltava-lhe aquele conteúdo espiritual que procuro nas criaturas" (p. 44), denunciando anseios mais densos do que o puramente sexual. E ao final, avaliando como "cansavam os desencontros", prefere o estar só, com "a metade da felicidade", pois outras realidades compensam com mais solidez: "Melhor voltar. Ir para casa. Reencontrar-me nas presenças tão minhas ali vividas, de sonhos, buscas, esperas; no lado bom da fé, da ternura que um dia eu fora capaz de abrigar; na Presença Maior, que permanece intata em cada ponto por ela tocado, quando corporeamente passara por eles". (p. 183).
E muito significativo é o "caso" último, com o cordobês Ricardo, antes de ir a Paris. Se a noite com Ricardo fora tão intensamente vivida, pois "ele soubera reconhecer a mulher que estava em seus braços; não se apressara" (p. 167), é porque houve uma comunhão, anseios e carências - quadro que constitui modelo bastante aproximado de todo o significado profundo da narrativa inteira. A observação da narradora-protagonista Paula - "Ricardo buscava, na pintura, a maneira de descarregar o peso interior. O espectador sensível e interessado recebe a confissão", após ter analisado "em todos os quadros, reflexos de um conteúdo humano onde a dose de pureza não conseguira sobrepujar a necessidade de pecado " - arma a complexa articulação de toda a narrativa, entre a felicidade e o pecado, entre os anseios humanos incontidos por uma busca do "paraíso perdido" e as "tendências ao pecado", estas últimas tão deturpadas por educação preconceituosa, evidenciando como a vida humana é quase incapaz de desenvolver sadia e feliz harmoniosidade em sua realização plena, por vir marcada pela rotina massacrante e por desenvolver-se pressionada por máscaras que vão resultando de inúmeros condicionamentos e imposições, o que permite encarar desconfiadamente a condição humana: "de repente, caímos dentro da vida. De onde? Por quê? Para quê? Perguntas feitas há milênios".
Dessa forma, a narrativa em seu todo se apresenta descontraída, dinamicamente fluida e variada na sua estrutura aparente, dentro da circunstancialidade quase aleatória dos lugares visitados no contexto do Mediterrâneo. Entretanto, esse quadro espacial constitui apenas superficial moldura para as personagens, cujos dramas, ânsias, buscas, carências, preconceitos e taLus afetivos vão explodindo, sobretudo no lento e paulatino desvelar-se do passado de Paula, deixando entrever, sob as aparências de segurança e naturalidade, episódios dramáticos que não podiam esvair-se sem deixar marcantes frustrações traumáticas, certamente equacionadas com hábil persistência. Trata o romance, pois, de um inusitado devassamento das paragens íntimas da personalidade feminina, focalizando a pessoa humana em um dos seus aspectos mais inalienáveis, o de constituir um inegável ser de relações. E bem evidenciam os dramas encobertos do relato que, insatisfeitas ou mal orientadas tais relações - por introjetada educação preconceituosa ou castradora impositividade - sobrevêm inevitáveis frustrações traumáticas, na desorientação produzida por subterfúgios desperdiçados em mascaradas superficialidades, quando reações dos ditames da razão se entrechocam com o dinamismo não sufocado das emoções.
Enfim, Viagem ao Desencontro se apresenta como narrativa habilmente estruturada, processando-se ardilosamente o encadeamento-encaixe dos instantâneos registrados, num genioso contraponto entre as aparências do presente e seu condicionamento profundo pelo passado.
O passado é feito aflorar através de pretextos bem semelhantes aos de Proust. E em momentos decisivos do relato, explora bem as potencialidades das elipses e lacunas - aspecto muito bem evidenciado por W. Iser -, para não desfazer com imperfeitas explicitações verbais o suspense da sugestão, na participação criativa do leitor. Tudo isso desmentiria cabalmente tratar-se dum romance de estréia, não fossem evidentes os fatos reais de que este foi o primeiro romance escrito por Ruth Laus a partir da década de 1960. E talvez pressentindo o poder vigoroso com que a narrativa fosse impor-se incisivamente ao leitor, adverte a autora no prefácio que "o leitor não exagere a tendência inata de atribuir ao autor todas as peripécias amadas ou sofridas pelas personagens. Pelo menos, por favor, não me dêem a mãe de Paula..." Nessa mesma advertência, discorde-se também da observação de que "o tempo desatualizou momentos", pois tais pormenores, se existem, são ínfimos e insignificativos no quadro geral desse corajoso devassar da intimidade feminina e humana de todos os tempos e lugares.
É no mínimo desconcertante este relato, em sua "moral desalinhavada", de uma narradora aparentemente madura, forte e segura, intervindo não raro como "bombeiro" em meio ao incêndio explosivo do grupo feminino, mas que permite constantemente à sua terna sensibilidade feminina transvasar todo tipo de máscaras, para criar um universo impregnado de humanismo que clama por respeito e condições de realização. Mesmo que fosse único, o romance inscreveria Ruth Laus com destaque entre os romancistas contemporâneos que dominam a estrutura narrativa e, ao mesmo tempo, têm um vigoroso e denso tema a comunicar. A Viagem ao Desencontro das personagens marcou o autêntico "encontro/revelação" da romancista Ruth Laus.
Lauro Junkes
(Este é o primeiro dos 3 textos escritos por Lauro Junkes que constituem um ensaio intitulado Ruth Laus sempre, publicado por ocasião dos 80 anos de Ruth. Foram aqui desdobrados para facilitar a leitura neste Memorial em forma de Blog.)
* Lauro Junkes é presidente da Academia Catarinense de Letras e integra o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina. Bacharel em Direito com mestrado em Literatura e doutorado em Linguística é professor da UFSC.
Ruth Laus sempre
Parte II: Em busca das raízes do clã germânico
"Presença de Thalia pode ser lido como a delicada crônica de uma família provinciana onde o gene do histrionismo, da teatralidade introduz-se no conservadorismo social e vai articulando-se de geração em geração até confirmar-se na personagem que encerra o ciclo ficcional. Entrei no texto como na fábula singela e enternecida de uma cidade – Tijucas – nos seus começos históricos e no seu fluir cotidiano. Ressaltaram na minha leitura as pulsações da paisagem provinciana, a sua rotina, os costumes, os sabores, os sons, as palavras, as crenças, a expressividade popular."
Inez Barros de Almeida
Lauro Junkes*
Sendo de 1966 o romance de estréia, em 1989 Ruth Laus trouxe a público seu segundo romance: Presença de Thalia (Rio de Janeiro: R. Laus). Sem olvidar o habilidoso tratamento das personagens demonstrado no primeiro, esse romance diferencia-se por definir um espaço muito específico para seu desenrolar: Tijucas, provinciana freguesia, terra natal da autora.
Na esteira do primeiro, o romance desdobra o reino da mulher. O feminino perpassa todas as páginas, com sensível primazia. Se os negócios e a política permanecem sob o comando masculino, sucede-se toda uma dinastia de mulheres, que decidem, sempre, os destinos da narrativa; da imigrante Anna – esta, sim, presença quase permanente, sustentando gerações múltiplas, desde 1880 a 1940, embora nunca extrapolasse de sua posição complementar -, passando por Thalia, de exuberante mas abreviado reinado, e extendendo-se por Maria, Theodora e a nova Thalia, gerações em sucessividade mas nunca repetitivas. Se a dinastia da nobreza real se perpetuava através do ramo masculino, aqui a primazia cabe definitivamente às mulheres.
Estruturalmente, a narrativa se arma em perfeita sucessão cronológica, com raras passagens em que a analepse resgata algum flash-back, por resgate de recordações. Aliás, essa temporalidade direta parece a mais adequada ao desenrolar dos fatos, porque, tratando-se fundamentalmente de um casal de imigrantes alemães, que veio em busca de futuro mais promissor, esse constante impulsionar para frente corporifica o dinamismo gerador da ação, que nunca se rende a estéreis reminiscências de passadismo, porque a vida necessita ser recriada e realimentada a cada momento, em função do que ainda virá. Se o passado representa experiência, esta, uma vez incorporada, não reclama retornos, porque imperiosa será a marcha contínua para frente.
Inicia com o ano de 1880, quando Rainer Brehm, um dos poucos alemães da freguesia de Tijucas, aguarda a chegada do jovem casal vindo da Alemanha: Anna e Hans Meissen, logo abrasileirados como os Máice. Não tarda e nasce Thalia Rottweil Meissen. Sucedendo-se as décadas, em saltos maiores ou menores, as folhas do calendário/capítulos irão desvelando os anos até 1955, quando a quinta geração retomará referência às primeiras, como que num “eterno retorno” cíclico.
Se a primeira Thalia, na visão ainda ingênua e infantil, mas de quem cultiva muita decisão dentro de si, indagava: “Papi, como se faz para ser São Sebastião?” (p.22 e 23, surpreendendo mais ainda com o desafio: “E como se faz para morrer?”, p.24), a narrativa encerra exatamente com idêntico questionamento da segunda Thalia à avó Maria, com quem fora inicialmente criada: “Vovó como se faz para ser São Sebastião?” (p. 156). Contextos diversificam-se, de Tijucas para o Rio de Janeiro; tempos sucedem-se da década de 1880 à de 1950, porém os ciclos permanecem em alternância, de modo que muitas perspectivas futuras se vislumbram, uma das razões do título Presença de Thalia.
Entretanto, se o futuro a decorrer dessa indagação da segunda Thalia permanece apenas no sugestivo horizonte dos possíveis, explicita-se muito bem como a primeira Thalia, não satisfeita com as respostas às suas indagações, decepcionada mesmo, porque não lograra realizar seus desejos (a vaidade inata explodindo - “A vaidade tomava o tamanho de Thalia”, p. 33) de “passear lá no alto (isto é, no andor do Santo carregado) cheio de flores”, e depois até experimentando complexo de culpa por não ter acompanhado o Santo como simples “anjo”. Vislumbrou, aos 15 anos, num momento complexo da família, uma promessa que não apenas projetaria suas aspirações ao mais alto nível, como também transfiguraria até mesmo o sentido da religiosidade popular expressa na procissão de Corpus Christi, pois Thalia passava a encarnar a mais veneranda personagem feminina da história, a Virgem Maria, numa vivência tão intensa que comprometeria sua própria existência naquele palco de suntuosidade e exibição, em que a projeção pessoal alteraria substanciais valores da religiosidade.
Com anuais inovações e sofisticações, o mito projeta-se ardilosamente no imaginário popular: “Cada ano, à hora da procissão, o rosado do rosto acentuava-se ao sol outonal. Os grandes olhos azuis brilhavam intensamente. E a Vila de São Sebastião do Tijucas venerava aquela ‘Virgem’ que, ano após anos, desfilava mais alta e mais bela” (p. 34). Atente-se, contudo, para o fato de que a linguagem e a crença das pessoas do povo muitas vezes se aproximam da concepção do carma oriental: cada ato tem seu preço e cada qual paga pelo que fez, para não assumir diretamente o juízo popular direto: castigo de Deus, em decorrência de certas atitudes. O que o futuro reservou para Thalia entende-se bem nessa linha de pensamento. Ela própria, na sua última procissão, sentiu-se “figura quase divina”, mas experimenta dentro de si dilacerantes sensações, pois, “dona de todos os olhares, tinha um coração desobediente dentro do peito. Tão agitado, negava-lhe até mesmo o ar” (p.66). Tudo conduz para uma visão reticente sobre a cerimônia do despojamento, após a procissão, e para o casamento, dois dias depois, quando, “a noiva foi a mais bela de todos os tempos”, porém, tomava consciência de “ quão alto preço tinha pago pelo uso, uma única vez, de um traje nupcial ao som da Ave-Maria” (p. 71).
Em meio à forte emoção que perpassa a detalhada narração/descrição dessas vivências cerimoniais, insinua-se inevitável sensação desilusória, como que a queda de um profundo sonho para uma crua realidade. Aliás, as personagens femininas de Presença de Thalia carregam muito fortemente dentro de si o estigma de atrizes de sonhos desvirtuados. Os destinos de Thalia precipitam os acontecimentos, sumarizados: se a procissão do ano anterior fora “a coisa mais esplendorosa” (p. 35), agora ela é lançada num “rever silencioso, detalhe por detalhe, da infância e da juventude” (p. 73), para, na festa do ano seguinte abandonar “definitivamente as procissões terrenas”, ao que se sobrepôs de imediato a voz popular: “É a ira de Deus por ter desprezado sua Santa Mãe” (p. 75).
Torna-se relevante acentuar que Presença de Thalia define muito conscientemente o seu espaço: a florescente freguesia de Tijucas, comunidade ainda não contagiada pelo anonimato da massa urbana, porém terra onde todos se conhecem e fato algum escapa aos olhares bisbilhoteiros. Transparece, na criação do espaço romanesco, um olhar atento e carinhoso da romancista para com sua terra natal. Brotou de sensibilidade artística o delinear da cativante atmosfera de simplicidade solidária, do ingênuo provincialismo, da religiosidade em que o sagrado e o profano se interfundem. O lirismo não se acanha em contracenar com o prosaico narrativo: “O Tijucas levava e trazia barcos com suas velas bojudas de vento. Era outubro e a primavera esbanjava lírios e margaridas em quintais brancos, quando o Açucena encostou” (p.39).
Não obstante os horizontes abertos ao final, Tijucas permanece o autêntico e definitivo palco do romance: ali cresce e se ramifica o clã dos Meissen; ali o próprio Hans Meissen, com a projeção da sua granja e dos seus negócios, conduz todo um jogo de liderança política; ali, na fé inquestionável e exteriorizada de uma população sem altos vôos intelectuais, as festividades e processões religiosas concentram as atenções de todos, e a tal ponto que o profano invade agudamente o tradicional religioso; ali a vida de todos é devassada pelo rastreamento uns dos outros, correm conversas e comentários, levantam-se repetidos e despeitados questionamentos sobre o fato de filhas e netas do clã Meissen sistematicamente casarem com “moços de fora”; mas ali também, reconheça-se, a liderança dos Meissen impõe novo padrão de vida, destacado espírito de compreensão e solidariedade, atmosfera de sensível harmonia e respeito, quase que transformando toda a comunidade num lar de aconchegante calor humano.
A provinciana Tijucas - de horizontes restritos, mas universo que se plenificava autonomamente – condicionou suas heroínas ao realismo conveniente ao clã. Apenas Theodora, transpostos já os cenários locais com os estudos na “cidade” capital e iniciada no Grupo Teatral de Aécio Cunha, estreando com personagem não menor do que Ofélia no drama Hamlet, rasgou, enfim, as amarras, com coerência e verossimilhança, para desvelar outras perspectivas futuras. Um gesto significativo que simboliza o significado dos filhos na família era o de plantar uma árvore. Assim, relembra Anna que, quando chegaram, ela e Hans, ele trouxera uma semente de jaca, que seria plantada logo após a primeira noite de descanso no Brasil: “Ele encarregou-se de furar e afofar a terra, ela de colocar o caroço e cobri-lo com leveza. Logo a primeira árvore não alemã correspondeu generosamente à ternura.” E “sob a jaqueira ‘namoravam’ ou resolviam assuntos sérios. Aquela sombra era território deles. E respeitado. Cada filho possuía sua própria árvore, seu próprio mundo. Nele faziam seus balanços ou viajavam nos navios de seus ramos.” (p.139). Aliás, essa matéria de memória fora concretizada, bem antes, quando nasceu Thalia: “Hans foi ao jardim plantar uma semente de flamboyant. A árvore cresceria com a filha” (p.19). Esse simbolismo de harmonia com a natureza muito revela sobre a vivência familiar.
Não considerando suficiente localizar o enredo de ficção em espaço real – Tijucas –, a autora aproveita, na cronologia em que se apresentam os fatos, as datas marcantes na História brasileira para enfatizar o enraizamento sócio-político da narrativa. Na década de 1890, lances da Revolta da Armada repercutem em Tijucas, pois Desterro sofreu o embate entre Federalistas e Legalistas, quando ocorreu radical imposição dos Legalistas de Floriano Peixoto, também em Tijucas prendendo e fuzilando o Juiz de Direito, de 38 anos. Mais adiante, ameaças da Revolução de 1930 assustam a localidade, mas nada de mais marcante aconteceu, embora anedotas circulassem amplamente pela região, a ponto de que “assim derrubaram a decantada valentia do tijucano” (p. 131). Já a II Guerra Mundial, 1939-1945, de uma parte, “feria os Meissen através dos noticiários de rádio” (p. 138), enquanto, de outra, com o fim da guerra, “a rotina silenciosa do Colégio (Coração de Jesus) foi interrompida pelo ruído de uma cidade em festa: sinos, buzinas, foguetes em profusão” e, por advertência, todos participaram das manifestações, para “evitar interpretações errôneas de que as Irmãs, por serem na maioria alemãs, não estariam felizes” (p.140).
Observe-se como o aspecto da temporalidade, na sua duração narrativa, varia sensivelmente, de acordo com as intenções subjacentes de ressaltar determinados tempos e personagens. Passagens de registro bastante sumário dos fatos decisivos, em que o tempo da diegese se reduz radicalmente em relação ao tempo do discurso narrativo, alternam-se com outras em que a exposição pormenorizada reduz visivelmente a disparidade entre esses tempos. Talvez o mais detalhados desses momentos tenha sido aquele do segmento “1907”, quando surge em Tijucas o “marujo” – de fato médico paulista solteiro – Rodolpho Garcia de Mattos. Justifica-se, porém, estruturalmente, tal tratamento, porque vai processar-se metamorfose notável em relação à “moça-Virgem”, à promessa feita e ao “marujo” atrevido. Aliás, com esse episódio, projeta-se com vivacidade uma personagem antes apagada e depois de inesperado futuro: a irmã de Thalia, Ingrid.
De outra parte, o episódio romanesco de Rodolpho lança luz sobre um personagem da classe popular, simples e pobre – Deoclécio, o popular “Pão-por-Deus”, personagem resgatada pela narrativa, para conferir-lhe valorização condizente com seu foro íntimo, bem acima das condições sócio-econômicas. Embora sua participação, como agente de ação, se restrinja a um só episódio, a simplicidade quase ingênua do seu caráter entremostra um coração sensível de autêntico poeta do povo e um sentimento humano que evidencia o sobrevalor do ser ao simples ter. Aliás, a autora, na sua aberta visão humano-social, fará emergir, mais adiante outras personagens de semelhantes condições. A família dos serviçais Xandoca/Tonica merece sempre sentimento de ternura e familiaridade. E quando a recém-nascida filha de Thalia “nasceu miúda, frágil”, recorrendo-se a simpatias e manifestações de sincretismo religioso para salvá-la e “acalmar a ira do Senhor” que parecia pairar sobre mãe e filha, a voz popular de uma quase anônima, Chica do Eleutério, sugeriu “consagrar a criança à Senhora dos Navegantes”, no batismo, fato com o qual “o bebê deixou de chorar” (p.79/80).
Mas é através dessa filha de Thalia, Maria, que se introduz outra personagem do povo, capaz de iluminar os valores humanos: Belarmino, figura que, nas privações e sofrimentos, adquiriu a estatura de harmonia e bondade, de outro poeta capaz de, a partir da sua morada plenamente suficiente em barco abandonado, aprender a sabedoria de que “a gente não pode apear no meio do caminho” e capitular, mas apreciar as maravilhas gratuitas da natureza: “Há Deus por todo lado(...) Olha só este entardecer, esta calma, este rio clarinho...”, ou então: “Dinheiro aprisiona, o senhor sabe. Pra mim, eu escolhi a liberdade”, contentando-se com a simplicidade: “Alguma coisa pra comer, um cigarrinho de pala vez outra, minha gaitinha... O resto Deus provê: saúde e coragem pra espera” (p. 91-93). Provado no seu amor incondicional por Ednéia, confessa que “fiquei até cego um tempão. Depois Deus me devolveu a vista para que eu pudesse ver esta beleza – olhou atentamente ao redor. – Antes eu não via nada, só Ednéia” (p.95). Embora o romance transcorra em meio social mais elevado, são personagens do povo mais simples, como estas, que projetam luzes que não podem ser olvidadas.
A psicologia das personagens permanece muito afinada com esse influxo contextual. Assim, por mais que se elevem os sonhos das personagens – Thalia Rottweil Meissen, “ figura quase divina” (p. 60), entregando-se à vaidosa compenetração de “ moça-Virgem”, nesse seu “ Primeiro Palco”, ao qual se entregou de corpo, de mente e de sentimento ou Maria que, do “ Brincando-de-Parecer”, sente abrir-se o atrativo do circo aliciando para horizontes infindáveis e a segunda Thalia de Camargo Raposo sugere apenas “O Recomeço”; – elas sentem os sonhos se confinarem nos limites dos seus horizontes, até que, “ao pisar no palco de estréia, Theodora desencarnou” (p.147). O casal Anna/Hans mantém, por toda a narrativa, postura de dignidade, harmonia, respeito e sensibilidade quase exemplares: ”Hans confessava aos tios que toda a sua força vinha da energia, do vigor e do companheirismo de Anna. Habituara-se a consultá-la sempre, mesmo sobre política”. Por exemplo, quando o “marujo” atrevido busca Hans para pedir Thalia, encontrando direta resistência nesse “homem de ferro”, a “habilidade inata” de Anna sempre desembaraça as situações. Quando Hans toma consciência do muito trabalho e pouco lazer no seu território e se iniciam as representações teatrais, Anna revela facetas inusitadas de personalidade, com toda aprovação de Hans. Os encontros de Maria com Raul exigem habilidades muitas dos avós, que sempre se harmonizam nas suas opiniões. Finalmente, quando Hans, aos 80 anos, morre e no seu sepultamento acontece acompanhamento nunca visto, Anna volta-se, com sensibilidade e ternura, para rever o passado, mas sempre com olhar unilateral, buscando Hans... “E como Hans não veio, ela foi ao seu encontro”, também descansando (p. 139).
Não obstante o título do romance ressaltar Thalia, a primeira retornando através da segunda, no “Recomeço”, definindo a circularidade cíclica, a presença que subjaz indelével, embora não ostensiva, é a de Anna. Se o marido Hans conduz o desenvolvimento sócio-político, deve-se creditar à atuação discreta mas lúcida de Anna todo esse desdobrar do universo feminino que a narrativa tão bem conduz. Não é romance de reivindicações feministas, não é narrativa que busque explorar efeitos sentimentalistas – possíveis até a partir de certos acontecimentos, não tenciona sua forma privilegiar malabarismos estruturalistas; trata-se, antes, de criar um relato envolvente, no qual avulta como grande personagem a comunidade familiar de imigrantes alemães, num definido e restrito espaço: a freguesia de Tijucas. Inegavelmente impõe-se ao leitor, ao final, um sentimento de nostalgia, num misto de satisfação e de saudade, ao evocar tempos e ambientes que a esfuziante tecnologia moderna baniu do universo. Também nesse romance impõem-se as considerações de Adonias Filho de que a romancista “mantém as janelas abertas. Muito o que se enxergar, efetivamente, através dessas janelas”.
Lauro Junkes
(Este é o segundo dos 3 textos escritos por Lauro Junkes que constituem um ensaio intitulado Ruth Laus sempre, publicado por ocasião dos 80 anos de Ruth. Foram aqui desdobrados para facilitar a leitura neste Memorial em forma de Blog.)
* Lauro Junkes é presidente da Academia Catarinense de Letras e integra o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina. Bacharel em Direito com mestrado em Literatura e doutorado em Linguística é professor da UFSC.
Ruth Laus sempre
Parte III: Sonhar É Permitido... Mas...
"Como pode um autor, no caso uma autora como Ruth Laus, penetrar tão profundamente em personagens assim diferentes, homens tão homens, mulheres tão mulheres? São os mistérios da criação literária. Porém, o modo de penetrar, de incorporar-se nos caracteres retratados mostra um dom para a observação, pois, é da observação que nascem esses contos."
Zahidé L. Muzart
Lauro Junkes*
Muito haveria a comentar sobre os densos dramas das narrativas que se enfeixam na duas partes do pequeno volume Relações (Florianópolis: Editora Letras Contemporâneas, 1994). À medida que se desenvolve a leitura, impõem-se inolvidáveis implicações decorrentes dos títulos - geral Relações e particular "A Ponte", para ceder lugar ao "Impermanência", instigando o trabalho mental do leitor: que "ponte"? Como relacionar o que a quê? Onde residiria o complemento, a plenificação, sempre inatingível, para esses destinos votados à "impermanência", carência, desencontro? Uma epígrafe geral transcreve, em francês, um pensamento de A Shopenhauer: “A paz profunda do coração e a paz perfeita do espírito não se encontram senão na solidão”.
Essa observação conduz a outra correlata: imprescindível notar o elemento psicológico a fundamentar com muita sutileza o desdobrar dos caracteres em suas "relações". Bem superiores a simples observações corriqueiras, profundas intuições, de implicações psicanalíticas, conduzem para além das puras palavras, sempre entremeadas de elipses, lacunas, carência de explicitação, integrando o leitor em constante e árdua tarefa para unir filões, precisar o indeterminado, prosseguir pistas suspensas, tecer a malha dos percalços de uma vida numa plenificada.
Entrecruzando presente com passado, para marcar o futuro, “Av. Atlântica 10º Andar” reduz a “mulher envelhecida”, à espera do impossível encontro com Heitor, porque “em cada móvel estava Eugênia, a rir, vitoriosa”, no condicionamento marcante de Heitor. A ambigüidade polissêmica de “Giselle” evidencia como se impõem, vigorosos e decisivos os subterfúgios do inconsciente para interferirem na realidade. Na amarga solidão da Isabela de "Impermanência", o vazio passar dos anos, na drástica ironia do anual botão de rosa em meio à decoração da casa, conduz à implacável sensação de que "aquelas peças não pertenciam a ela. Ela lhes pertencia". E "O Círculo" que marca os longos anos de Paula, obcecada pela miragem de Júlio, concentra-se na simbologia dos óvulos/fetos em sua pintura - tudo sintetizado em belíssima imagem: "Paula-Júlio, ponteiros marcando diferentes horas em relógios desacertados, a desencontrarem-se na hora de acertar". E ainda no destino desiludido da Raqueline de "A Ponte", buscando a ilusão das viagens sem destino, uma fortuita e frágil relação ressalta a identidade redentora das relações não havidas: as duas suicidas, "amparadas pelas forças da vida, retomam seus destinos".
Sobretudo nessas cinco narrativas, escritas por mulher, focalizadas cada qual por personagem-mulher, desenha-se a solidão de vidas em desencontro, em que a delicada sensibilidade feminina capta com invulgar sutileza a sofrida alma feminina, destroçada pelo destino sem saída. E observe-se que, ao contrário do conto costumeiro, centralizado em apenas único e estreito núcleo dramático, focalizando um episódio ou momento de uma vida, os relatos de Ruth Laus tendem a gérmens novelescos mais amplos, condensando longos anos de toda uma vida que se desfaz em vazia rotina.
Nas cinco narrativas da segunda parte, a visão feminina revela profunda intuição da alma masculina. Para Francisco da Silva, o "sonhar é permitido" o título "Liberdade" marcam ironias fatais. E o inicial lirismo de “A canoa", desenvolvendo clima machadiano de dúbia ambigüidade no contraponto entre Luíza e Jandira aos olhos de Pedro, desemboca numa surpreendente atitude final, não desmentindo a amarga ironia. E a corrosão negativa atinge níveis de violência psicológica quando o infeliz dono do "botãozinho de manacá", não obstante o insistente fato de que "lutador ele foi", vergou ao destino, por virtudes da machadianamente ambígua Inésia. O angustiante monólogo interior de "Primeiro de Abril", desfazendo-se no surpreendente final lírico-humorístico, denuncia a "absurda e paradoxal: Liberdade", em meio à original estrutura arquitetônica do relato, acompanhando o percurso de ônibus pelas ruas do Rio de Janeiro, quando "acabara de ser montada sem a menor divulgação e estreada sem anúncio, a peça a REVOLUÇÃO, a ser encenada em todo o território nacional por tempo indeterminado". Finalmente, "Malmequeres" denuncia as falcatruas que defraudam o escritor que, em sua frustração "despetala" o dinheiro, lembrando muito o milionário falido no filme O Eclipse, de Antonioni.
Na segunda edição, Relações vem enriquecido de mais um relato – “Interlúdio”. O título nos faria indagar de imediato: trecho musical intercalado entre o que e o quê? Trata-se de uma narrativa não longa, 15 páginas, porém perpassada de lances diversificados que bem condensariam os ingredientes de novela. De uma parte, transparece um corte transversal na fervilhante Rio de Janeiro, desde as sombrias ameaças de violência até os líricos recantos que sua bela natureza soube preservar. De outra parte, toda uma ideologia voltada para o aspecto da solidariedade humano-social se interpõe ao suceder dos fatos. Entretanto, é a presentificação do relato que constrói um dinamismo dramático sem subterfúgios, que termina por aportar em paragens que evidenciam como as atrações se processam por vias mais espontâneas e sábias do que os frios raciocínios humanos podem imaginar.
De um enganoso embarque em táxi que não o chamado, processam-se “relações” que o simples acaso não comporta. Assim, elemento acessório vai, aos poucos, impondo sua importância: do motorista titular aos substituto, armou-se toda uma trama, através dos passeios “lava-alma”. Do aspecto profissional passam a insinuar-se outras “relações”. Se as carências não logram dissimulações permanentes, das similitudes carenciais entreabrem-se caminhos que entrecruzam psicologia com odontologia, um dentista-taxista-psicólogo com o esperado “Tratado-de-Amor-Tardio”. O “taxi-liberdade”, abraçado “como única forma de liberdade”, na “fuga de nós mesmos”, passando por caminhos de respeito e ternura, aporta em consultório em que se complementam o “doar e receber”, para alargar sua abrangência e criar uma terapia-prazer. Bela sentença bem sintetiza toda a relação: “As mãos que acariciam recebem, imediatamente, o calor da outra pele” (p. 105). De comedidas atitudes, sóbrias e ponderadas, o eu, em seu solitário universo, formula gestos espontâneos de abertura e encontra a correspondência harmonizante, de modo que as carências infiltram antenas que não deflagram dramas, mas restabelecem calores humanos que nem a idade octogernária logra sufocar.
À semelhança do que ressaltou argutamente Bakhtin em relação a Dostoievski, como este captara com apropriada fineza momentos em que suas personagens se encontravam em crise de consciência, dali transparecendo o caráter polifônico, assim também Ruth Laus delineia destinos amargamente sofridos, conscientizando-se da crise de seus pontos terminais de vida, não tanto da vida biológica, mas da psicológica, afetiva, interior, da vontade e sentido do viver. Nas "relações" inexistentes, a problemática essencial é "a ponte que liga a vida", como especifica um conto. Mas, pergunta-se: liga o que a quê? A breve palavra "vida" poucas vezes adquiriu tamanha densidade enigmática como nestes relatos. E nos meandros psicológicos trilhados pelas situações narrativas, ressalte-se ainda a imposição do terrível complexo de culpa - ao erro deve seguir o castigo - que tanto marcou a tradição judaico-cristã. Examine-se, nesse sentido, "A Canoa", "Manacá" ou "O Círculo", entre outros. Restam veredas inúmeras para o leitor trilhar na ambigüidade polissêmica destes bens trabalhados contos de (sem) Relações. E Ruth Laus, Laus sempre, inscreve-se nas Letras Brasileiras com presença imortal.
Florianópolis, junho de 2.000
Lauro Junkes
(Este é a terceira parte do texto escrito por Lauro Junkes e que encerra o ensaio intitulado Ruth Laus sempre, publicado por ocasião dos 80 anos de Ruth. Foram aqui desdobrados para facilitar a leitura neste Memorial em forma de Blog.)
* Lauro Junkes é presidente da Academia Catarinense de Letras e integra o Conselho Estadual de Cultura de Santa Catarina. Bacharel em Direito com mestrado em Literatura e doutorado em Linguística é professor da UFSC.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Você sabe onde fica a cidade de Tijucas?
Tijucas, onde Ruth Laus nasceu, fica ao lado da praia de Porto Belo, onde ela residia. Dista 45 km ao norte de Florianópolis e 35 km ao sul do Balneário de Camboriú. Tem cerca de 28 mil habitantes. É cortada pela rodovia BR-101. Suas principais origens são açorianas e alemãs. Foi fundada em 1853 e conserva casas de mais de 100 anos.
Parte uma estrela
Douglas Tedesco*
De todas as coisas, há algo inevitável: a morte. Por mais que perdure a batalha ou medo, em um instante, não mais do que um instante, se faz a perda... Toda uma vida, momentos que pareciam ser eternos farfalham-se em memórias. Nos atinge o maior de todos os mistérios, viramos protagonistas do que há de mais inexplicável, onde a única solução do próximo é a conformidade, aprender a conviver com a eterna saudade.
E ao décimo segundo dia de um setembro ensolarado passa a se fazer ausente Ruth Laus, chega o seu momento de compartilhar deste ato divino. Aos bem vividos 87 anos, Ruth deixa para o mundo, obras de intenso valor, falando da humanidade, da própria família a quem muito amava e do valor das pessoas, ela, sempre humilde e tão valorosa, de um brilho intenso. Uma jovem de 87 anos, durante os quais produziu bem feitorias universais em forma de palavras escritas.
Haja o que houvesse, lhe transparecia uma eterna primavera, de sorrisos sinceros, e alegria inesgotável. Foi uma mulher em seu tempo, fazendo o tempo de todas as mulheres, lutando por causas tachadas de inúteis. Guerreando para uma cultura sólida, tendo oportunidades que seriam sonhos de qualquer um, mas ainda sim, escolhendo sua terra, elucidando suas origens ela partiu representando Santa Catarina em solos mais distantes, e nem por isso desfez dos seus primórdios o seu fim. Era a mulher que doava livros, que não mediu esforços para promover a cultura local, resplandecer o valor do que nos pertence, não porque lhe rendia fortunas, não porque a fama a tomaria naquele espaço, mas por prazer... O prazer de intelectualizar o próximo.
Dizem que quando viemos ao mundo, Deus dá a cada um de nós uma estrela, só depende nós faze-la brilhar... Ruth fez da sua estrela um sol, iluminando todos a sua volta, são pessoas assim, que nascem com especial missão. Muito obrigado Ruth por cumprir a sua! A mulher, que distribuía as obras da família, a mulher colunista, a mulher administradora, a mulher da galeria, que esteve entre escritores de todos os lugares, fez histórias com H maiúsculo. Ela estudou as artes, em vários institutos, apenas para se despertar, por que todas já viviam consigo, nascera com elas na alma, e no coração. Amou, e onde estiver amará Tijucas.
E a partir desta data só o que podemos e devemos fazer é sorrir por tê-la conosco, agradecer, de tantos lugares necessitados de anjos, este pousou bem aqui. É assim que a criatura divina faz com os bons, ele os quer do seu lado, este é o momento de Ruth iluminar ainda mais os céus com sua luz, luz de quem não vivia, mas de tanta intensidade: acontecia!
Agora é continuar caminhando seguindo seus passos, porque de certa forma somos todos artistas, e o maravilhoso espetáculo da vida, do bem, não pode parar!
E no mais é só uma estrela, uma constelação fazendo seu curso natural, voltando ao seu lugar no céu.
Douglas Tedesco
(Publicado nos jornais da região da cidade de Tijucas (SC) em 12 de setembro de 2007)
* Douglas Tedesco é escritor de ensaios, contos, artigos, poesias. Tem 19 anos e nasceu em Tijucas. Tem um blog na Internet em: www.douglas-tedesco.blogspot.com e escreve também no Recanto da Letras ( http://recantodasletras.uol.com.br )
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Uma Viagem de Ruth
Cesar Laus Simas*
O livro de Ruth surpreende pelo envolvimento sentimental que nos prende do início ao fim. São bons momentos de leitura e de afinidade. Ler, estar nesta Viagem ao Desencontro nos leva a muitas paragens. Passamos pela França, Itália, Egito, Argentina, Brasil e pela pequenina, não em importância, mas amada Tijucas.
Sentir as personagens retratadas de forma completa, simples e objetiva demonstra o potencial da escritora. Mais; demonstra sua versatilidade, sua capacidade criadora. Demonstra sua vida. Ali, nas entrelinhas de Paula, vemos as experiências vividas ou conhecidas de Ruth. Nestas condições a nós fica claro que ela veio pra ficar. Seu romance mostra, em poucas páginas, sua riqueza, seu conhecimento, sua cultura, sua qualidade e capacidade observadora. Mais ainda, sua delicadeza de ser quem tudo vê, tudo apreende, tudo sente e tudo aspira. Ela tem uma imensa capacidade de viver e lutar que a poucos é permitido.
Ruth tem na Viagem uma maneira especial de narrar, tem uma linguagem que observa detalhes e nos faz imaginar as minúcias; tem uma delicadeza de tratar suas personagens e, com isto, elevar os sentimentos do leitor. Ela domina, completamente, os pensamentos das personagens. Seu irmão, Harry, uma vez me disse que “fazer literatura significa dominar completamente o pensamento da personagem”. Ruth faz isto com maestria em seu romance de ficção. Ela retrata a vida em torno da história apresentando sua coragem, não a coragem de Paula, mas a coragem de Ruth Laus. Seu livro é sua confissão de vida ainda em vida. Era para ela não perder seu tempo no confessionário mais tarde.
Seus desencontros amorosos, tanto da personagem como da autora, levaram e lançaram Ruth em busca da distribuição do seu amor aos irmãos e sobrinhos. Dar, mas à sua maneira. Com esta sua angústia de dar e não querer receber muitas vezes ela machucou os mais sensíveis, causou lágrimas em quem ela não queria. Ela sabia, sua armadura de sofrimentos de amores passados não permitia uma maior proximidade. Ela não se permitia ser amada com ‘mãe’. Só como mulher. Com isto ela foi uma só, presente e rodeada de pessoas que lhe admiravam, que lhe emprestavam um certo carinho. Com isto ela lapidou seu gênio indomável, corajoso, livre. Hoje, após ler a sua Viagem, sei que a conheço mais.
Ruth deixou em todos uma lacuna de presença. Um aperto no coração. Uma lágrima que teima em cair. Em alguns, mais do que em outros. Em nós, seus sobrinhos, filhos de seus irmãos queridos, ela deixou uma imagem de doação, de desprendimento. Ela doou seus bens materiais em vida e nos deixou a sua maior riqueza: seus pensamentos, seus livros, seus quadros. Em nós, seus sobrinhos, filhos dos filhos de seus irmãos amados, ela deixou lágrimas azuis e uma saudade incolor. Ela deixou uma angústia que abafa nosso choro, mas nos faz lembrar do sorriso maroto, das tiradas inteligentes, das sátiras e das broncas que magoavam nossos pequeninos corações. Suas broncas não eram para os corações. Eram para a personalidade.
Tia Ruth queria receber de nós amizade e amor, incondicionalmente. Eu não consegui lhe dar. Fui apenas um sobrinho pequeno. Sinto não ter tido a grandeza de ter sido seu amigo fiel, ou ter a coragem dizer que lhe amava, que lhe admirava. Mais, no seu último dia tomei decisões que não eram de seu desejo e as terei que carregar sozinho. Meu reconhecimento talvez tenha vindo tarde para ela. Não para mim.
Beijo grande,
Cesoca pipoca
Ps. Tentamos, seus sobrinhos, todos, cada um a sua maneira, realizar mais este seu desejo: publicar a reedição da sua Viagem. Ficou bonita. Esta é a nossa última homenagem a ti que fostes em tua Viagem ao Desencontro. Muitas últimas nós ainda faremos. Tia Ruth, leve o nosso enorme agradecimento, profundo reconhecimento e eterno carinho. Leve, também, por nós, o nosso beijo azul para os nossos pais amados e para os pais dos nossos pais queridos – Oliveirinha, Jenny, Didi, Té, Jayme, Egeu, Alceu, Éti, Córa, Harry, Ogê e Belela, e aos que não conhecemos (Zínia, Ogê e Plínio) e aos seus amores também. Ah, e para os nossos avós também. Os cinco.
Ruth Laus fez sua viagem em 87 anos, 7 meses e 17 dias. E noites. De 25/1/1920 a 12/9/2007.
Cesar Laus Simas
(texto escrito para a terceira edição do livro Viagem ao desencontro.)
*Cesar Laus Simas é sobrinho de Ruth Laus. É jornalista e professor da Univali, especialista em Marketing pela Udesc.
sábado, 6 de outubro de 2007
sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Ruth no céu
Na clara manhã desta quarta-feira, dia 12 de setembro, prenúncio da Primavera, Ruth Laus chegou ao céu para finalmente reencontrar os seus. Era a última dos doze irmãos Laus que faltava tomar seu lugar na morada de Deus, em que a esperavam Judith, Esther, Celeste, Cora, Harry...
Mulher forte, culta, liberal, empreendedora, nascera em Tijucas, Santa Catarina, em 25 de janeiro de 1920. Cedo buscou nos grandes centros – Porto Alegre e, depois, Rio de Janeiro – os espaços de liberdade e cultura de que sua alma sensível necessitava para viver desafios. Montou nos anos dourados da década de 50 a Galeria de Arte “Villa Rica”, que se transformou num ponto badaladíssimo de encontro de artistas e escritores da então Capital Federal. Ali também se reuniam muitos catarinenses do circuito das artes: Lausimar e Harry Laus, Marcos Konder Reis, Othon Gama d`Eça, Nóbrega Fontes, Maura de Senna Madureira, Arnaldo Brandão.
Além de escritora e reconhecida crítica de arte, Ruth foi especialmente uma agitadora cultural. Sua contribuição a movimentos culturais foi intensa e produtiva, participando e ou promovendo inúmeros eventos e instituições de cultura, no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Santa Catarina, para onde retornou na virada do milênio. Em nosso Estado, nos últimos anos, dedicou-se com esmero e determinação à divulgação da obra de seu irmão, o também escritor e crítico de arte Harry Laus. A cada ano, reeditava à suas custas um livro de Harry ou seu e o distribuía a mancheias, pelas cidades de Santa Catarina.
Itajaí sempre fez parte desta itinerância lítero-cultural e a recebia com festa! Neste ano, em julho, o evento Harry Laus – 15 Anos de Ausência foi no auditório do Colégio Fayal, com mais de 200 convidados presentes. Ruth estava radiante, como sempre, e todos nós, seus amigos, contentes como ela. Foi a nossa fraternal despedida, que não sabíamos...
Tal qual no poema de Manoel Bandeira, imagino também Ruth entrando no céu:
- Licença, São Pedro! E São Pedro bonachão:
- Entra, Ruth, a bendita que semeou livros !
Prof. Edison d´Ávila
Diretor do Colégio Fayal de Itajaí, SC
(Publicado no Jornal Diario da Cidade, Itajaí-SC, 14/9/2007)
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
Ruth Laus - 1920-2007
Faleceu com 87 anos no dia 12 de setembro de 2007, em Tijucas (SC), no hospital onde estava internada vítima de um AVC a escritora e crítica de arte Ruth de Paula Laus, que manteve intensa vida cultural no Rio de Janeiro onde criou a primeira galeria de arte da cidade em 1956, a Galeria Villa Rica.
Ponto de encontro de intelectuais, artistas e da sociedade carioca, frequentavam a Villa Rica nomes como Mario Faustino, Renard e Rossini Perez, Edilberto Coutinho, Luiz Canabrava, o crítico de arte Harry Laus (irmão de Ruth), a escritora Eneida, Mario Barata, Quirino Campofiorito, Athos Bulcão, Frank Schaeffer, José Condé, Vera Bocaiúva Mindlin, Carlos Bastos, Georgina de Albuquerque, Wilson Reis Neto, Roberto Burle Marx e muitos outros.
Ruth Laus foi produtora e apresentadora do programa Studium - na TV Continental Canal 9, focalizando artes e literatura, secretária da Associação Brasileira de Críticos de Arte e secretária do Conselho de Artes Plásticas do Museu da Imagem e do Som. Colaborou escrevendo sobre arte e cultura em O Jornal, revista Leitura, revista GAM, Jornal de Ipanema e Vida das Artes.
Recebeu prêmios e distinções da Academia Catarinense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Associação Brasileira de Críticos de Arte.
É verbete dos principais dicionários de artes plásticas do país e escreveu vários livros, entre eles, "Decoração - nem módulo, nem mafuá" (1966), "Viagem ao desencontro" (romance, 1972), "Presença de Thalia (romance, 1989), "A décima carta, Laus apenas" (1994), "Relações" (contos, 1994) e "Villa Rica, um tempo feliz" (2005).
Trabalhou e se manteve ativa até o último instante. Residia em Porto Belo (SC) depois de 50 anos de Rio de Janeiro, e em outubro iria lançar reedição de livro de Harry Laus na Academia Brasileira de Letras no Rio, preparava a edição de sua correspondência com Harry pela Editora Mulheres de Florianópolis, e em sua breve passagem pelo hospital dizia:
"Vamos pra casa que tenho muito o que fazer..."
RUTH
Conheci Ruth Laus há alguns anos por intermédio de seu irmão, o escritor Harry Laus mas, somente depois do falecimento dele, estreitamos nossas relações. Sempre admirei-a muito por sua forte personalidade de lutadora.
Uma mulher de projetos. Sempre planejando alguma coisa (e não pouca coisa) e levando à frente o que planejou com muita garra. Dedicadíssima à memória de seu irmão, reeditou-lhe, depois de sua morte, toda a obra literária. Fez também pesquisas sobre as vidas de suas irmãs e irmãos e editou em livro um passeio pela vida e obra de cada um num trabalho de memória notável. Nos últimos dez anos, pode-se dizer que se dedicou de corpo e alma a registrar a passagem da linhagem Laus pela terra.
Apenas no livro, Villa Rica, um tempo feliz voltou-se para si própria e mergulhou fundo em sua própria história, registrando o que foi a sua paixão: a Galeria Villa Rica que durou quase dez anos, no Rio de Janeiro. De 1956 a 1965, Ruth dirigiu a Villa Rica, no coração do Rio de Janeiro, à época: Copacabana, Rua Barata Ribeiro, 467, onde promoveu um intenso movimento artístico-cultural nas Artes Plásticas. Com isso, incentivou muitas vocações de jovens, criando o primeiro movimento, no Rio, realmente empenhado na descoberta de novos valores. Villa Rica foi a primeira galeria carioca com programação permanente em exposições de vanguarda. E esta era a característica mais importante da Villa Rica: estar à frente dos movimentos artísticos e apoiar manifestações pioneiras nas artes em geral. E com essa característica, registro também a marca principal de sua criadora, ou seja, estar à frente de seu tempo, ser uma mulher pioneira que sempre visou incentivar a cultura de nosso país.
Hoje, infelizmente, é o final da carreira desta mulher admirável, devotada à família, à memória, à cultura, à arte. Hoje, Ruth viajou não ao desencontro mas ao encontro dos seres que mais amou.
Como Ruth escreveu em Villa Rica, ela gostaria de realizar o que Harry sonhou no final do livro De-como-ser:
“Que bom se eu pudesse montar um enorme circo, com imensa escadaria interna, conseguisse descobrir um menino vestido de branco e varinha mágica na mão que chegasse ao pano-de-boca e o abrisse para a descida de toda a população que agora está neste livro...queria junto a mim, todos aqueles que freqüentaram a minha Villa Rica para abraçá-los e dizer-lhes Deus os abençoe, irmãos.”
Certamente hoje, Ruth, depois de uma vida bem vivida e com a tarefa cumprida, está realizando este sonho e encontrando seus irmãos e amigos, artistas e escritores.
Deus te abençoe, querida Ruth.
Escrito em 12 de setembro de 2007
Zahidé Lupinacci Muzart
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
Ruth Laus parte para fazer sua própria viagem ao desencontro
Seria lindo chorar azul, não seria?
Ruth Laus, essa notável menina de 87 anos, arrebatou-me na primeira leitura que fiz dessa viagem. Depois de encontros e desencontros (e ela sabe do que estou falando), num memorável dia na Lagoa da Conceição, entre amigos queridos, cerveja gelada e frutos do mar, após muito falarmos do que vinha, há anos, fazendo pela obra e memória de seu saudoso irmão, Harry Laus, achamos que era hora de pensar um pouquinho na obra dela; daí esta terceira edição de sua “Viagem ao Desencontro”.
Confesso que me espantei com sua linguagem, a maneira precisa de narrar, o olho clínico nas minúcias, a delicadeza e fineza de pensamentos, o domínio sobre as personagens, a narrativa clara e sem truques e, ainda mais, com sua coragem, já que o livro é praticamente uma confissão, quase que completamente autobiográfico, tirantes algumas pequenas partes, como no caso da mãe de Paula, totalmente ficcional, como confessa a autora no princípio do livro.
O desencontro é amoroso, mas, ao fim e ao cabo, ocorre um encontro, também amoroso, com a solidão. É a autora mesma quem diz: “Não é tão penoso viver só”. Ou, ainda: “Só, estamos durante as buscas, quando perambulamos aflitos querendo integrar-nos a momentos aos quais não pertencemos. Só, estamos ao dar-nos sem amor. Só, estamos ao receber o que não amamos. Há de sabermos ter a nós mesmos e retirar das ausências todas as presenças as quais necessitamos que sobrevivam. Elas estarão, todas, ao nosso redor. Não concretas. Não materiais. Mas nossas. Totalmente nossas”.
Por essa coragem, esse desprendimento, esse olhar arguto de quem entregou-se completamente à vida, sem esperança nem medo (nec spe nec metu), estreando no romance com a faca entre os dentes, é que costumo chamá-la de Clarice Lispector do Sul, do que ela dava boas risadas.
Melhor assim, pois como ela mesma diz: “Eu sorri. Ri, mesmo... Era preciso rir”. Só quem já chorou muito pode dizer tranqüilamente isso: “Seria lindo chorar azul, não seria?”
Esta foi a orelha que fiz para o livro que iríamos reeditar. A terceira edição de “Viagem ao Desencontro” era um pedido da própria Ruth. Com a editoração e a capa do livro praticamente prontas (iria lançá-lo no Rio de Janeiro, em outubro), privamos quase que semanalmente nesses últimos meses, às vezes eu, às vezes ela, ligando-nos para tratarmos do andamento do livro.
No dia 3 deste mês, liguei novamente para avisá-la de que o copião estava pronto para as revisões finais, quando me contaram que ela havia sofrido um princípio de derrame. Avisei imediatamente aos amigos mais chegados. Dias depois, para alívio nosso, tivemos a notícia de que ela se recuperava bem e tivemos a certeza de que sairia dessa, acostumada que era a enfrentar dificuldades. Confesso que fiquei preocupado, pois Ruth Laus era o tipo de pessoa que detestava depender de alguém. Optou por isso desde muito jovem, dando conta de sua vida praticamente sozinha, pois não se casou e não deixou herdeiros: a independência era seu lema, que não cansava de defender com unhas e dentes.
Intolerância às meias palavras
Conheci Ruth Laus mais profundamente por meio de minha mulher, Teresa Collares, que Ruth tinha como a filha que não teve. Tivemos alguns problemas, como era de praxe, por sua verve e sua honestidade intelectual e afetiva (pode-se acusar Ruth Laus de muitas coisas, menos de que tenha sido hipócrita). Não mandava recados, o que tivesse a dizer, dizia na lata, na cara do cidadão, doesse a quem doesse. Por isso, muitas pessoas a detestavam. Confesso que prefiro gente assim.
Não farei aqui um histórico da vida de Ruth, que deixo para quem dela tenha mais conhecimento, mas é impossível deixar de contar algumas passagens dessa octogenária especial. Ruth era do tipo de gente que alegrava qualquer ambiente onde chegasse. Tinha uma vontade de viver e uma alegria poucas vezes vistas em pessoas dessa idade. Todos que a conheceram irão concordar comigo.
Uma coisa que sempre me chamou a atenção nela foi a sua coragem e o relacionamento com a vida: não nutria ilusões, falsos moralismos (que sofreu na pele desde menina), não se punha num pedestal, enfrentava a vida e a morte de peito aberto, tentando sempre vislumbrar o outro com o olhar arguto, com a agudeza de pensamento, com sua (por incrível que pareça) delicadeza no trato com as pessoas de quem gostava, sempre fazendo carícias, ficando de mãos dadas com quem falava, sempre com uma palavra amiga, um riso maroto na boca, uma piadinha pronta ou um pequeno palavrão que às vezes assustava quem pouco a conhecia.
Com certeza, Ruth era uma pessoa controversa, mas isso era o melhor que tinha em si: não suportava a burrice, a incompetência, a desonestidade, a falsidade, as meias palavras. Foi uma pessoa inteira, íntegra; ou tudo ou nada; ou oito ou oitenta (parece que preferiu os oitenta) e viveu da vida tudo que ela podia oferecer, intensamente, verdadeiramente.
Nutria uma paixão imensurável por seu irmão Harry Laus. Conheci jamais (parafraseando-a) irmã mais dedicada à memória do irmão-escritor. Reeditou vários de seus livros, doando-os em incontáveis lançamentos bancados do próprio bolso, aqui e em outros Estados, divulgando não só sua obra (de Harry) como incentivando à leitura, ao conhecimento e à propagação da arte pelos quatro cantos.
Perdemos todos uma pessoa que, pelo que Ruth foi, parece estar em vias de extinção: uma mulher corajosa, de seu tempo, fiel as suas idéias até a medula do osso, batalhadora incansável das artes, brigona, alegre, com seus defeitos e suas qualidades, de fibra, de carne e osso, verdadeira, amável, e que lutou com todas as suas forças para ser sempre Ruth Laus.
Nada mais a dizer, a não ser que: “Seria lindo chorar azul, não seria?” Hoje, Ruth, todos os teus amigos, creias, estão chorando azul.
Ah, e manda lembranças minhas ao Harry...
(Texto de Vinícius Alves, editor, publicado no Caderno de Cultura “Anexo” do jornal A Noticia de Joinville em 19/09/2007)
Correio da Bahia noticia morte de Ruth Laus
Seção Folha da Bahia em 25/9/2007
Duas trajetórias sensíveis
Semana passada, o Brasil perdeu dois ícones de sua cultura: Mário Barata e Ruth Laus. Ambos longevos e produzindo até os últimos instantes de suas vidas. Intelectuais com contribuições significativas para a formação da memória da história da arte brasileira. Conseqüentemente, figuras muito especiais mas, por exercerem funções específicas e restritas a um público intelectual, muitas vezes são pouco prestigiados pela mídia, reconhecimento oficial e do grande público.
Os críticos de arte passam toda uma vida estudando, pesquisando, produzindo livros, ensaios, textos para catálogos, lançando artistas, acompanhando suas trajetórias, influenciando tendências, criando movimentos, registrando história, planejando exposições, salões e bienais, informando o público, buscando fazer um elo entre a arte e os artistas, ensinando em escolas e universidades, escrevendo em jornais e revistas, clarificando um produto sensível: a arte.
Muitas vezes são encobertados pelo véu do esquecimento, quando sem eles não existiria história em qualquer país. Mário Barata e Ruth Laus não podem ser esquecidos. Ambos deixaram grandes serviços prestados ao país.
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Mário Barata
Nasceu em 1921, no Rio de Janeiro, e foi um dos homens mais cultos que o Brasil já produziu. Jornalista, crítico de arte, professor de História da Arte, estudou Museologia, Ciências Sociais, História e Direito em seu estado natal. Licenciou-se em Letras e História da Arte na Sorbonne, diplomando-se, ainda, em Ciências Políticas da Universidade de Paris. Foi catedrático, por concurso, de História da Arte, da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Integrou o Conselho do Museu de Arte de São Paulo. Foi professor em diversas universidades no Brasil e no exterior. Membro do júri Internacional da IIª Bienal de Paris e dos júris nacionais da Bienal de São Paulo e Salão Nacional de Arte Moderna do Rio.
Foi assessor para as artes na I Conferência Geral da Unesco, em 1945, em Paris. Em 1949, organizou no Rio e em São Paulo a Seção Brasileira da Association Internationali des Critiques d’Art. Participou de colóquios internacionais na Universidade de Harvard, em 1968. Proferia palestras em português, espanhol, francês e inglês com grande desenvoltura.
Mário Barata teve intensa atividade jornalística. Lançou o Programa Crítica de Arte na Rádio Ministério da Educação e Cultura. Foi colaborador efetivo do Hand-book of Latin Americam Studies e da Biblioteca do Congresso, em Washington, nos Estados Unidos. Escreveu muitos livros sobre artes plásticas, destacando-se A escultura de origem negra no Brasil (1957) e Razões de ser e a importância da arte moderna (1958). Produziu centenas de textos sobre artistas brasileiros. Mario Barata nos deixa aos 86 anos, ainda ativo e brilhante, na mesma cidade onde nasceu.
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Ruth Laus
Nasceu em Tijucas, Santa Catarina, em 1920, e faleceu em Porto Belo, no mesmo estado, semana passada. Era uma mulher de projetos, forte personalidade, bela, elegante, loquaz, trabalhou até poucas horas antes de ter um acidente vascular cerebral aos 87 anos. Em 1952, transferiu-se para o Rio de Janeiro e inicia seus estudos de Museologia (MEC), Composição e Análise Crítica (MAM), História da Arte e Estética (Instituto de Belas Artes) e História Comparativa da Música e Artes Visuais (Escola Nacional de Belas Artes).
Em 1956, funda e dirige no Rio a Galeria Villa Rica, onde promove intenso movimento artístico-cultural, abrindo espaço para novos talentos que mais tarde se tornariam grandes nomes das artes plásticas como Antonio Maia, Vilma Pasqualine, Raimundo Oliveira, Edelweiss, Píndaro Castelo Branco, Maurício Salgueiro, Maria do Carmo Secco, Antonio Grosso, Iaponi Araújo e tantos outros.
Ruth Laus iniciou, aos 14 anos, atividades jornalísticas colaborando com um semanário dominical em sua cidade Tijucas. Em 1957, estréia coluna de artes plásticas em O jornal, Rio de Janeiro, onde permaneceu por um bom tempo. Assinou colunas na revista Gam e Leitura. Produziu, dirigiu e apresentou o programa Studium na desaparecida TV Continental sobre arte e artistas.
Viajou pelo Itamaraty, proferindo palestras sobre arte brasileira pela América Latina e Europa. Escreveu vários romances premiados. O mais importante, Viagem ao desencontro, teve apresentação elogiosa de Adonias Filho. Ruth Laus faleceu escrevendo um livro de memórias. Tinha deixado o Rio de Janeiro aos 80 anos, quando comentou: “Aqui no Rio está muito violento, prefiro morrer na praia de Porto Belo”. Aconteceu como ela quis.
(publicado em http://www.correiodabahia.com.br/folhadabahia/noticia.asp?codigo=137725 )