quinta-feira, 4 de outubro de 2007

RUTH

Conheci Ruth Laus há alguns anos por intermédio de seu irmão, o escritor Harry Laus mas, somente depois do falecimento dele, estreitamos nossas relações. Sempre admirei-a muito por sua forte personalidade de lutadora.

Uma mulher de projetos. Sempre planejando alguma coisa (e não pouca coisa) e levando à frente o que planejou com muita garra. Dedicadíssima à memória de seu irmão, reeditou-lhe, depois de sua morte, toda a obra literária. Fez também pesquisas sobre as vidas de suas irmãs e irmãos e editou em livro um passeio pela vida e obra de cada um num trabalho de memória notável. Nos últimos dez anos, pode-se dizer que se dedicou de corpo e alma a registrar a passagem da linhagem Laus pela terra.

Apenas no livro, Villa Rica, um tempo feliz voltou-se para si própria e mergulhou fundo em sua própria história, registrando o que foi a sua paixão: a Galeria Villa Rica que durou quase dez anos, no Rio de Janeiro. De 1956 a 1965, Ruth dirigiu a Villa Rica, no coração do Rio de Janeiro, à época: Copacabana, Rua Barata Ribeiro, 467, onde promoveu um intenso movimento artístico-cultural nas Artes Plásticas. Com isso, incentivou muitas vocações de jovens, criando o primeiro movimento, no Rio, realmente empenhado na descoberta de novos valores. Villa Rica foi a primeira galeria carioca com programação permanente em exposições de vanguarda. E esta era a característica mais importante da Villa Rica: estar à frente dos movimentos artísticos e apoiar manifestações pioneiras nas artes em geral. E com essa característica, registro também a marca principal de sua criadora, ou seja, estar à frente de seu tempo, ser uma mulher pioneira que sempre visou incentivar a cultura de nosso país.

Hoje, infelizmente, é o final da carreira desta mulher admirável, devotada à família, à memória, à cultura, à arte. Hoje, Ruth viajou não ao desencontro mas ao encontro dos seres que mais amou.

Como Ruth escreveu em Villa Rica, ela gostaria de realizar o que Harry sonhou no final do livro De-como-ser:
“Que bom se eu pudesse montar um enorme circo, com imensa escadaria interna, conseguisse descobrir um menino vestido de branco e varinha mágica na mão que chegasse ao pano-de-boca e o abrisse para a descida de toda a população que agora está neste livro...queria junto a mim, todos aqueles que freqüentaram a minha Villa Rica para abraçá-los e dizer-lhes Deus os abençoe, irmãos.”

Certamente hoje, Ruth, depois de uma vida bem vivida e com a tarefa cumprida, está realizando este sonho e encontrando seus irmãos e amigos, artistas e escritores.

Deus te abençoe, querida Ruth.

Escrito em 12 de setembro de 2007
Zahidé Lupinacci Muzart

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