segunda-feira, 24 de março de 2008

Ruth Laus – guerreira da arte

Carlos Cavalcanti, Juscelino Kubitschek,
Antonio Bento e Ruth Laus em 1971.


Perdemos Ruth Laus. Aos 87 anos ainda buscava coisas novas, trabalhava e vivia com intensidade. Nasceu em Tijucas – Santa Catarina – em 1920 e faleceu em Porto Belo, no mesmo Estado.

A contribuição de Ruth Laus para a cultura brasileira é significativa. Os críticos de arte são figuras muito especiais, mas por exercerem funções específicas e quase que restritas a um público intelectual, muitas vezes são pouco prestigiados pela mídia, com reconhecimento oficial e do grande público. Estes profissionais passam toda uma vida estudando, pesquisando, produzindo livros, ensaios, textos para catálogos, lançando artistas, acompanhando suas trajetórias, influenciando tendências, criando movimentos, registrando história, planejando exposições, salões e bienais, informando o público, buscando fazer um elo entre este, a arte e os artistas, ensinando em escolas e universidades, escrevendo em jornais e revistas, clarificando um produto sensível: a Arte. Muitas vezes são encobertos pelo véu do esquecimento, quando sem eles não existiria história em qualquer país. Basta citar alguns nomes emblemáticos do nosso Brasil, que sem suas contribuições seria profundamente mais pobre intelectualmente e sem referências: Mario Pedrosa, Sérgio Milliet, Antonio Bento, Walmir Ayala, Roberto Pontual, Jayme Maurício, Harry Laus, Flávio de Aquino, Maristela Tristão, Wilson Rocha, Maria do Carmo Arantes, Gonzaga Duque, Wolfgang Pfeiffer, Pedro Manoel Gismondi, Dinah Lopes Coelho, José Simão Leal, Olney Kruse, Wilson Coutinho, Clarival do Prado Valladares, Maria Eugênia Franco, Quirino Campofiorito, Carmem Portinho, Geraldo Ferraz, Ernestina Karmann, Marc Berkowitz, Liseta Lewy, Osmar Pisani, Carlos Flexa Ribeiro, Umberto Consentino, João Salgueiro, Flávio de Aquino, Edyla Mangabera Unger, Alcídio Mafra de Souza, Carlos Cavalcanti, Vera Pacheco Jordão, Hugo Auler, José Geraldo Vieira, Lourival Gomes Machado, José Valladares, Ivo Velame, Tomás Santa Rosa, Paulo Mendes de Almeida, Mario Schenberg, Flávio Mota, Casimiro Xavier de Mendonça, Carlos Eduardo da Rocha, Celso Kelly, Donato Mello Júnior, Enrico Schaffer, Gean Linhares Bittencourt, Gilberto Cavalcanti, Gilberto Ferrez, Ibiapaba Martins, João Cândido Galvão, Ruben Navarro, José Maria dos Reis Júnior, José Simão Leal, Lindoff Bell, Luís Washington Vita, Maria Torres de Carvalho Barreto, Mario Barata, Michel Kamenka, Murilo Mendes, Nelson Abbott de Freitas, Quirino da Silva, Sálvio de Oliveira, Silvia de Leon Chalreo, Silvio de Vasconcelos, Stefania Brill, Terezinha Bartholo, Vera Pacheco Jordão, Waldemar Cordeiro, Waldemir Alves de Souza, todos já falecidos.

A memória do bem é de obrigação registrar. Melhor ainda seria se a ABCA produzisse um livro, escrito por seus associados (quem melhor conhecesse cada crítico) para registro, estudos e fundamentações históricas. Algumas sugestões para o título: Memorial da Crítica de Arte Brasileira, Coleção Crítica de Arte – Memória, Antologia da Crítica de Arte Brasileira – Memória ou outros mais inspiradores e competentes. Ainda que seja um livro de bolso, mas registrar é obrigação da entidade de classe, pois foram eles que deram identidade nacional à critica de arte.

Ruth Laus foi secretária da ABCA na presidência de Antonio Bento de 1971 a 1974, participou da comissão de credenciais na gestão de Geraldo Edson de Andrade de 1986 a 1988.

Era uma mulher de projetos, forte personalidade, bela, elegante, loquaz, trabalhou até poucas horas antes de ter um acidente vascular cerebral. Em 1952 transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde estudou Museologia (MEC), Composição e Análise Crítica (MAM), História da Arte e Estética (Instituto de Belas Artes) e História Comparativa da Música e Artes Visuais (Escola Nacional de Belas Artes).

Em 1956 fundou e dirigiu, no Rio, a Galeria Villa Rica, nome dado pelo poeta Mário Faustino, onde promoveu intenso movimento artístico-cultural, abrindo espaço para novos talentos que mais tarde se tornariam grandes nomes das artes plásticas. A galeria permaneceu até julho de 1965, na Rua Barata Ribeiro em Copacabana e reunia artistas plásticos, poetas, escritores, intelectuais brasileiros e estrangeiros.

Ruth Laus iniciou, aos 14 anos, atividades jornalísticas colaborando com um semanário dominical em sua cidade, Tijucas. Em 1957 estréia coluna de artes plásticas no O Jornal – Rio de Janeiro – onde permaneceu por um bom tempo. Assinou colunas na Revista Gam e Leitura. Produziu, dirigiu e apresentou o programa Studium na extinta TV Continental sobre arte e artistas.

Viajou pelo Itamaraty, proferindo palestras sobre arte brasileira pela América Latina e Europa. Escreveu vários romances premiados. O mais importante, “Viagem ao Desencontro”, teve apresentação elogiosa de Adonias Filho. Nos últimos anos vivia para divulgar o trabalho de seu irmão, o, também crítico, Harry Laus. Tinha deixado o Rio de Janeiro aos 80 anos quando comentou: “Aqui no Rio está muito violento, prefiro morrer na praia de Porto Belo”. Aconteceu como ela quis.

César Romero (vice-presidente da ABCA-Norte/Nordeste)

César Romero é pintor, fotógrafo e crítico de arte. Formado em Medicina e especializado em Psiquiatria, participou de mais de 450 exposições coletivas e 39 exposições individuais no Brasil e no exterior. (Publicado no jornal da ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte) em sua edição de dezembro de 2007 (Ano VI, nº 14)

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